sábado, 3 de maio de 2008

Júlio Sebastião - Dagorda Julho de 91





Esta foto tem mais de 13 anos e traz-me uma carrada de memórias. O Júlio Sebastião olhava para o meu bloco de notas que eu escrevinhava com o nervosismo de um estagiário. Foi num corte de estradas dos agricultores do Oeste, na Dagorda, perto de Óbidos e já não me lembro quem tirou a fotografia. O Júlio era uma figura. Uma vez ofereceu-me a mim e ao Pedro Cunha duas caixas de pêra rocha. Chamavam-lhe o Che Guevara do Bombarral. Onde quer que estejas Júlio, à tua saúde! A noite mais longa da Dagorda

Memórias da Dagorda, Julho de 91:

Há um filme com Matt Dillon a passar no ecrã a cores da taberna do Eusébio, na Dagorda, perto de Óbidos, onde pela terceira noite consecutiva os agricultores não deixam circular o tráfego automóvel. Em cima da TV, uma ventoinha roda lentamente da esquerda para a direita. Ao fundo, alinham-se garrafas de Macieira e Aguardente velha. A animação na sala da taberna, bem na esquina do cruzamento da Dagorda, gira em torno da velha cabine de madeira onde durante todo o dia de quarta-feira foi possível ver a figura atarracada do carismático Júlio Sebastião a atender chamadas após chamadas.
“Estou? Posto Público da Dagorda, quem fala?” Muitas vezes, na confusão dos inúmeros depoimentos, já não se sabe com quem está a falar. “Quem era?”, perguntam-lhe. “Eh pá, já nem sei, era de um jornal qualquer”. Júlio é visto a falar com a mesma convicção com o gabinete do ministro ou com um jornalista de uma rádio local.
À noite, em círculos bem determinados, longe dos tractores e dos agricultores, habitantes da Dagorda dão largas à sua indignação. “Esse barbas, esse cabecilha que aí anda, ele é o culpado disto tudo...atão há lá direito de não deixarem saír uma camioneta cheia de gasolina. O homem ‘teve aí desde segunda-feira sem poder passar”.
Outro comenta: “há-de valer-lhes de muito. O ministro alguma vez vinha à Dagorda? Primeiro era preciso descobrir onde isto fica no mapa”. O corte de carvalhos e plátanos para barrar a estrada não foi do seu agrado. “Cortaram uma árvore com 200 anos, atão há lá direito? Botavam lá umas pedras...”
Para os habitantes da Dagorda, o bloqueio da estrada representou um corte radical com a rotina diária. “Onde é que começa a guerra?”, perguntava alegremente um grupo de rapazes que passava o enorme carvalho a barrar a estrada do lado de Óbidos.
Alguns agricultores, estirados à porta das casas ou encostados aos tractores, apresentavam cansaço e desânimo. “Estamos saturados e lamentamos a maneira como sempre o governo nos trata nestas coisas”, afirmava um agricultor que pediu o anonimato. “O governo quando entrou para a UE devia ter alertado os agricultores”.
Por volta da meia noite, Júlio Sebastião dirige-se ao microfone do velho peugeot cinzento dos altifalantes e pede ânimo aos agricultores. “Esta noite, vai ser a mais longa da minha vida. A minha voz está a ficar cansada mas espero que ainda dê para amanhã (ontem) nas negociações de Lisboa. Muito obrigado e boa noite a todos”.
Na taberna do senhor Eusébio, que só encerrará lá para as quatro da manhã, o movimento não para. Os proprietários, que já tinham o estabelecimento encerrado desde domingo para gozo de férias, viram-se compelidos a reabri-lo. Os agricultores obrigaram-nos a abrir o café?, perguntamos. “Não”, responde a proprietária, debruçada no parapeito da janela onde lhe pedem constantemente copos de vinho e cervejas. “Só nos disseram: Têm de abrir que a gente está a morrer de sede. A gente abriu.”
Na televisão do estabelecimento, o “24 horas” mostra um mapa de Portugal com os pontos onde as estradas estão cortadas. A sala enche-se, Júlio Sebastião pede silêncio. Há em todos uma alegria mal contida.
Correm rumores, mais uma vez, de que a polícia de intervenção teria sido avistada junto ao cruzamento de Óbidos. Outros contam que nove jeeps da GNR teriam sido vistos a atravessar as Caldas da Rainha. Outros ainda falam em cortar a estrada nacional Lisboa-Porto. Como sempre, estes rumores carecem de confirmação.
“Isto é melhor do que ir ao cinema, pode crer” afirma um bem disposto observador, habitante na povoação, sentado na mesa do canto da taberna.
Os agricultores juntam-se perto dos transístores, para ouvirem as notícias sobre outros cortes de estrada pelo país. “Ouvimos agora que cortaram a estrada em Santo Tirso e em Famalicão”, diz alguém ao microfone. Suados, extenuados, muitas vezes de garrafa na mão, esforçando-se para se manter acordados na terceira noite de bloqueio, alguns agricultores dão largas ao seu descontentamento. “Ao menos que peguem numa metralhadora e matem a gente duma vez. É melhor do que andarem a matar a gente a pouco e pouco”.
Junta-se um grupo de três homens do campo. “É gasóleo, é juros, é o preço que baixa no produtor para subir no consumidor, é uma vergonha”, lamentam. Falam-nos do leite que é vendido a 47,50 pelo produtor e é vendido nas lojas a 140. Queixam-se da fruta que vendem a 35 e é vendida a 150. “Quem lucra? É o agricultor? E isto passa-se no leite, na carne, na fruta”.
Enquanto se esvazia um garrafão de vinho, fala-se dos jovens agricultores. “Um moço que eu conheço”, recorda um lavrador do Bombarral, “com 22 anos, deu-lhe a vergonha e matou-se. Devia 4 ou 5 mil contos à cooperativa, comprou sacas e sacas de batata, o ano correu-lhe mal, matou-se. E como esse já ouvi falar de outros”, afirma um agricultor do Bombarral. “Eu votei PSD mas digo-lhe que assim não vou votar e como eu, os outros quase todos. Estamos desiludidos”
Pelas duas da manhã, vêem-se agricultores adormecidos em cima do volante dos tractores. Outros dormem envoltos em mantas, dentro de automoveis. Júlio Sebastião ausenta-se, “para dormitar”. A madrugada fria cai sobre o cruzamento da Dagorda e a rua esvazia-se.
De manhã, ainda Sebastião não voltou do banho retemperador que foi tomar a casa, um círculo de lavradores, boné na cabeça, braços cruzados, entretem-se a prognosticar o que se vai passar na reunião com o ministro. “Se eles voltam de mãos vazias é que é o diabo”. Mais tarde, um jovial Júlio Sebastião declarava antes de partir para Lisboa “estar muito esperançado de que tudo iria correr bem”. Mal sabia ele, que voltaria mesmo à Dagorda “de mãos vazias”.

Noticia Original, está no Blog: http://estradasperdidas.blogspot.com/2004/10/jlio-sebastio-dagorda-julho-de-91.html

domingo, 27 de abril de 2008

Obidos, Uma vila Unica...

Veja alguns videos da vila de Obidos:




É assim o dia a dia da vila de Obidos...



Caldas da Rainha, fica a 10 km



A 18 km Peniche

Vila de Obidos, Fica a 3Km

Alguns versos Populares...

Óbidos, Pátria Amada, de arrifes é rodeada, de mais de mil patifes é habitada, aqueles de calça pingada, que andam por ai na dependura, ainda me vão roubar os ossos quando estiver na sepultura...( Padre Malhão)

sábado, 26 de abril de 2008

Dagorda: Maria Grasiela"Zelinha"...

Dagorda tão presenteira, pequena e hospitaleira, parece que Deus te guia, és a terra onde trabalho é de toda agente o ganho do pão nosso de cada dia.
O maior encanto teu, será! Trabalhar com mais ardor viver da nossa amizade dispensado a caridade de um Portugal Maior.

Dagorda meu berço, terra onde nasci, foste o meu berço lá tenho o meu e a companheira.

Sinos repicando as avé marias, o povo rezando, todos espalhando suas alegrias, nesta terra verdejante, amar Deus e o trabalho, tem aqui outro sabor, a respiração dominante de um pensamento constate por um Portugal Maior.

Alumia a candeia que me quero ir deitar,
A morgadinha á beira do mar só têm inveja do nosso cantar.

Sem torcida sem azeite como hei-de alumiar.
A morgadinha á beira do mar só têm inveja do nosso cantar.

Cortejo de Oferenda(em Obidos)
Minha Mãe, quem é aquele pregado naquela cruz.

A Mãe disse: aquele é Jesus, a santa imagem dele

O Miudo: e quem é Jesus.

Mae: é deus

Miudo: e quem é Deus.

Mãe: é quem nos cria e nos dá a luz do dia, e veio ensinar a gente que todos somos irmãos, e devemos dar as maõs uns aos outros irmãmente. todo o amor toda a bondade, e morreu para mostar que a gente pela verdade, nos devemos deixar matar.

Oração Antiga...

Versos do Trabalhador...do Fló...

Mal rompe a madrugada
ponho ao ombro a minha enchada
e vou para o campo trabalhar
é assim a minha vida.
porque gosto desta vida
e nunca a poderei deixar.

Sempre, sempre a trabalhar
é assim o nosso viver
se não podemos ganhar
já não temos que comer.

À quem diga por supor
que um pobre trabalhor
é rude não sabe nada
é uma ideia embrutesida
por somente leva a vida
a puxar pela enchada.

sabemos compreender que é bonito
saber ler é bom ser educado
a sorte é ke nos ilude
não tem nada o homem ser rude
para ser um homem honrado.

Estes versos são de Floriano Leal Ribeiro, " Fló".

Versos do Ti Lazaro

Meus senhores e senhoras
Com respeito ao negócio.
Está mau, nenhum dá...

O Joaquim "Serrador".
Farta-se de trabalhar.
Não sei o que ele faz.
E agora por fim.
Deixa de vender o gás.
A mulher ralha e murmura.
As freguesas levamas botijas,
E não pagam a factura.

Temos também a "Padeira".
Eu não me posso conformar.
Pois se o pão é uma "brindeira".
Ela ainda o quer aumentar.

O Zé Silva também diz
Que não dá, que não dá.
E tem que fechar as portas.
Mas encosta-se ao balcão.
E é só contar anedotas.
As freguesas aborrecem-se e dizem
Vou ver se a Zezinha ali está.
Mas perguntam por bacalhau.
E ela diz que não há.
Mas eu vou lá pedi-lo.
E o bacalhau só vem
A noventa escudos o quilo.

O Manel "Ferrador" esse.
Safa-se bem, porque sabe
fazer as manobras.
Prega as ferraduras velhas.
E diz aos fregueses que são novas.

O Rogério mais abaixo
Esse então é muito esperto.
Os filhos vendem, a mulher vende,
E ali não há preço certo.

O Guilherme "Serrador".
Esse, não sei como é.
Com o negócio da madeira.
Já arranjou um "Chailé".

O " Velhinho", esse coitado.
Agora é que vai p'ro fundo.
Porque agora não se dá.
Com ninguem do Novo Mundo.

O Tóino Domingos, do armazém.
Esse trabalha forte,
Porque lá aprendeu
a fazer aquele lote.

O Domingos da Regina.
Esse vai-se safando
E é um bom cavalheiro.
Mas só ele é que quer vender,
Até já ralhou com o "Tendeiro".

Valente está o Albino "Baleia".
Está sózinho ali no canto.
Arranja o dinheiro que quer.
Dizem os homens do Banco.

Eu queria pedir desculpa.
Se deixei alguem p'ra trás.
Porque isto tudo foi estudado.
No dia de são Brás.

Estes versos foram criados por:
Lázaro da Silva 03-02-1976

Uns dias mais tarde declamados pelo próprio no teatro de Carnaval em A-da-Gorda.
Ditados pelo próprio a Helena Santos em : 27-10-1999